COP26, o nuclear e a ameaça de Almaraz

Apesar de nos últimos anos ter começado a ser generalizado o consenso quanto à necessidade de abandonar os combustíveis fósseis, a verdade é que as metas de redução das emissões de C02 parecem cada vez mais difíceis de alcançar e o aumento dos preços globais da energia vem agora revitalizar o debate sobre o uso da energia nuclear como fonte de energia limpa.
O Partido da Terra-MPT entende que a forma de atingir a neutralidade carbónica até 2030 não passa pela energia nuclear (o seu potencial de devastação ficou bem demonstrado nos acidentes nucleares de Three Mile Island, de Fukushima e de Chernobyl e, apesar de cerca de dez por cento do lixo de uma central nuclear só perder a sua radioatividade ao fim de milhares de anos, continua a faltar interesse político e investimento no estudo de processos eficientes para o tratamento e armazenamento dos resíduos nucleares), mas sim pelo desenvolvimento massivo das energias renováveis, pelo apoio à eficiência energética e pelo aumento das interligações entre os mercados energéticos.
Por isso saudamos o compromisso assinado à margem da 26.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas que decorreu em Glasgow (onde, recorde-se, o nosso País não foi representado na Cimeira dos Líderes), subscrito por cinco países europeus (Alemanha, Portugal, Luxemburgo, Áustria e Dinamarca), defendendo que a energia nuclear não deve ser incluída nas fontes energéticas sustentáveis da União Europeia, deixando por isso de receber financiamento, mas não podemos deixar de considerar uma vergonhosa incoerência que o Governo de Portugal (que em 1983 optou, e bem, pela recusa da produção de energia nuclear) e a Agência Portuguesa do Ambiente permitam a continuidade em funcionamento da vetusta central nuclear espanhola de Almaraz, implantada numa zona de risco sísmico a escassos cento e dez quilómetros da fronteira portuguesa, e não esclareçam que diligências foram tomadas depois do anúncio, em julho deste ano, da construção de um segundo armazém de resíduos nucleares naquela central, que irá receber os resíduos de quatro das sete centrais nucleares a operar em Espanha e deverá entrar em funcionamento em 2026, dois anos antes do anunciado encerramento de Almaraz!