O regresso

M. Rosa

Depois de 3 longos meses a falar, durante várias horas, para um écran, muitas vezes desprovido de imagem, para além daquela que nós próprios estávamos compartilhar….chegou o dia do regresso à escola…o “re-regresso”, uma vez que já não temos o mesmo sentimento que tínhamos o ano passado. Desta feita, os professores e mesmo os alunos regressaram muito mais confiantes, sem aquela sensação que reinava o ano passado, em que pairava um “medo” que tudo iria ficar contaminado em poucos dias. Agora foi literalmente voltar à normalidade de máscara posta e de mãos continuamente a serem desinfetadas…e testar! Testar o que realmente foi aprendido e apreendido durante o tempo do écran.
Testar se quando eles diziam que sim, que tinham compreendido, isso não queria apenas dizer “cale-se lá um pouco!”
Testar as ditas aprendizagens essenciais, como se as restantes fossem…supérfluas.
E????
E que a única conclusão a que chego é que as diferenças, que no ensino presencial, se vão colmatando diariamente, se foram agigantando. Alunos que são empenhados, interessados, com “fome” de aprender, de conhecer…para esses, os tempos de confinamento, foram produtivos, permitiu-lhes organizar o seu trabalho, fazer pesquisas, ter os professores sempre a seu dispor, nas diferentes plataformas. Logo que tinham uma dúvida e a colocavam, obtinham a resposta do outro lado, personalizada, orientada e muitas vezes acompanhada de um “ excelente questão! Parabéns! Continua!”, o que os motivava ainda mais a prosseguir. Mas há os outros, aqueles que o ensino, o nosso ensino, por melhores estratégias que se inventem, por mais empenho que os professores e, nalguns casos, os pais tenham, vão sempre sentir que a escola “é uma coisa que detestam”, o ter de ouvir e estudar, o que eles não querem ouvir nem aprender. Alunos com interesses que não vem contemplados em nenhum currículo, pelo menos, num currículo do ensino obrigatório…os jogos online, as redes sociais ou mesmo, a simples rua, a rua para andar de bicicleta ou a jogar futebol com os amigos. Para esses, os dias, as semanas traduziram-se em …nada!!! Estavam ou não estavam, já que na maior parte das vezes tinham a câmara desligada ou quando a ligavam, depois de muita insistência, só se via uma testa ou a parede de fundo, enquanto continuavam o seu jogo. Para esses, nem as ditas aprendizagens essências, foram aprendidas, para esses os professores são agora convidados a fazer planos de recuperação, como se fosse possível recuperar um “buraco” de 3 meses…mas tenta-se. Os professores são resilientes, caso contrário, já não seriam professores neste pais que os trata tão mal. Serão os únicos a tentar, porque os alunos, esses alunos que deslumbram o final do ano e as férias, como o paraíso prometido, esses alunos vão continuar a ir à escola diariamente à espera que os dias simplesmente …passem! E,um dia, quem sabe, possam ocupar o seu dia, em algo que realmente lhes interesse.